Beatriz Lopes* –
Encarar o risco nas aplicações pode ser uma barreira para muitos investidores. É comum que aqueles que dão os primeiros passos no mercado financeiro tenham receio de ver as incertezas dos cenários político e econômico refletidos na sua carteira.
Em um momento delicado de recuperação da economia após o fim do período mais severo de isolamento social por conta da pandemia, o Brasil enfrenta alguns desafios. Um dos principais é o rápido avanço da inflação, que acumulou alta de 10,06% em 2021 – bem acima do teto da meta do Conselho Monetário Nacional – de 3,75%, com limite de tolerância de 5,25%.
Para conter a alta dos preços, o Banco Central promove um relevante ciclo de aumento da Selic, a taxa básica de juros, que subiu de 2% em janeiro de 2021 para os atuais 9,25%. Esse cenário, em tese, deixa os ativos de renda fixa mais atrativos, com boas opções tanto nos Títulos do Tesouro, quanto nos títulos privados (Debêntures).
Já no campo político, 2022 é um ano marcado pelas eleições. O caminho até a escolha do novo presidente será sublinhado por um acréscimo de incertezas gerada pelo cenário (até agora binário), que aponta a disputa entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A instabilidade tanto no campo econômico quanto no político impacta na Bolsa, com a intensificação do movimento de venda dos papéis. Em 2021, o Ibovespa acumulou queda de quase 12%, aos 104 mil pontos.
Mesmo diante do panorama incerto, é possível montar uma carteira com ativos que protejam o patrimônio de incertezas. Neste material, vamos abordar as ferramentas e estratégias que o investidor pode – e deve – utilizar para investir com segurança.
O que é risco?
Os cenários social, político e econômico no Brasil e no mundo refletem nas oscilações de preço dos ativos e dos indicadores de rentabilidade, como a curva de juros, por exemplo. Há, igualmente, fatores adversos que podem mudar a perspectiva de maneira repentina como aconteceu com a pandemia, em março de 2020. A onda de incerteza se tornou aversão ao risco, que tomou conta do mercado.
“Risco de mercado, é risco de flutuação de preço. Ao comprar uma ação, ela tende a valorizar ou desvalorizar – um dia vale uma quantia, e no outro, outra quantia”, diz Pedro Zumarán, assessor de investimentos da SVN.
Perfil de investidor e apetite ao risco
Para enfrentar o risco, é preciso conhecê-lo. Toda aplicação é passível de riscos, e é necessário entender essa dinâmica e avaliar os prós e contras no momento de montar a carteira de investimentos.
Por isso, é importante saber em qual perfil que o investidor se encaixa: conservador, moderado ou agressivo. Assim, o assessor tem o respaldo necessário para traçar o plano de investimentos com mais ou menos exposição ao risco, de acordo com a personalidade de cada cliente.
“O risco é bom ou não dependendo do perfil do investidor, do momento e da disponibilidade de caixa”, afirma Zumarán.
Quais são os tipos de risco?
Todo investimento é passível de risco. No entanto, depende da modalidade e da exposição de cada aplicação. Por isso, há diferentes tipos de risco no mercado financeiro, sendo eles: o risco de mercado, de crédito, de liquidez, operacional e legal. Estes, são explicados melhor abaixo.
Risco de mercado: É a possibilidade de perda de dinheiro devido às oscilações do mercado financeiro baseado nos acontecimentos do cenário interno e externo. Sendo este muito comum em aplicações de Renda Variável, como ações e fundos de investimentos.
Risco de crédito: Este, por sua vez, se refere ao risco de inadimplência. Ou seja, é a possibilidade do emissor não cumprir com o pagamento das remunerações determinadas em contrato. Por isso que a capacidade de pagamento de uma instituição irá definir seu nível de risco de crédito.
O risco de crédito está presente em debêntures, quando a empresa emissora não repassa os rendimentos. Ou até mesmo em fundos de investimentos – isso porque os ativos investem em outros produtos financeiros, e uma das empresas envolvidas pode não pagar os lucros, fazendo com que a rentabilidade da aplicação fique comprometida. E assim, pode vir a aumentar o risco de mercado, pois faz com que o investimento não seja seguro.
Risco de liquidez: Já o risco de liquidez se diz a respeito da facilidade de negociação de um ativo no mercado. Dentro deste cenário, se o ativo não for vendido, o investidor tem dificuldade em receber o dinheiro de volta. Por exemplo, ao investir em um imóvel o risco de liquidez é alto – isso porque a venda do imóvel não é algo simples ou rápido de se fazer.
Risco operacional: São os riscos que toda empresa ou instituição possui ao apresentar falhas operacionais e possíveis fraudes no sistema. Podendo ser erro da instituição emissora, erro de digitação, sistema com falhas, conexão de internet e instituição mediadora. O risco de crédito está presente em todas as etapas do investimento, por isso, o acompanhamento e análise dos relatórios emitidos é fundamental para que se possa identificar as possíveis falhas antes mesmo delas acontecerem e assim, evitar perdas maiores.
Risco legal: Está presente em agentes ou instituições que atuam sem a regulamentação ou fiscalização de órgãos como o Banco Central (BC) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Todas as aplicações e transações financeiras devem ser registradas por estes órgãos, e seguir as diretrizes impostas por eles. Se não, os investimentos não são considerados juridicamente seguros.
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“O risco não é algo fácil. Mas quando a bolsa cai e o investidor tem um dinheiro separado, ele consegue aproveitar” – Pedro Zumarán
Como investir com segurança?
É possível investir com segurança mesmo em meio aos riscos. Para os investidores iniciantes, de perfil conservador, há a opção de emprestar dinheiro para o governo por meio da compra de títulos do Tesouro Direto, que tem são tão mais rentáveis e tão seguros quanto a poupança.
Quais são os investimentos de baixo risco?
Tesouro Direto
O Tesouro Direto é formado por títulos públicos emitidos pelo Governo Federal – o investidor empresta dinheiro para o governo e recebe juros de remuneração pelo empréstimo. Esses títulos oferecem rentabilidade superior à poupança e são tão seguros quanto, pois têm risco soberano. Isso porque o investidor só perde o dinheiro caso o país entre em falência.
Há três modalidades no Tesouro Direto:
- os prefixados – Tesouro Prefixado e Tesouro Prefixado com Juros Semestrais;
- pós-fixados – Tesouro Selic;
- híbridos, atrelados com a inflação – Tesouro IPCA+ e Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais.
Entre as taxas cobradas nestes títulos, estão a tarifa de custódia paga à B3, que organiza o sistema do Tesouro Direto e a de administração de banco ou corretora que faz a intermediação das operações. O investimento também inclui o pagamento de IR e IOF em taxas regressivas.
LCI/LCA
A Letra de Crédito Imobiliário (LCI) e a Letra de Crédito Agrícola (LCA) são títulos emitidos por instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central. São investimentos de renda fixa com lastro nos setores que os nomeiam. Ao investir nessa categoria, o investidor incentiva a atividade agropecuária e/ou imobiliária, segmentos que incentivam o desenvolvimento do País – por isso, os títulos têm isenção de Imposto de Renda (IR).
Semelhantes ao Certificado de Depósito Bancário (CDB), as letras de crédito pós-fixadas são mais comuns de serem encontradas no mercado.
CDBs
O Certificado de Depósito Bancário (CDB) são títulos emitidos por instituições financeiras. Ao investir em um CDB, o cliente empresta dinheiro para o banco, e recebe uma remuneração baseada no percentual de um índice de referência, o CDI – geralmente, algumas instituições oferecem mais de 100% do CDI.
É um investimento seguro e prático. Porém, os rendimentos dos CDBs são tributados no Imposto de Renda de acordo com a tabela regressiva, de 22,5% a 15,0%. Além disso, possuem a cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
Como funciona o Fundo Garantidor de Crédito (FGC)?
O Fundo Garantidor de Crédito (FGC) é uma organização privada, sem fins lucrativos, que visa a proteção de instituições financeiras e de investidores contra crises bancárias sistêmicas. O valor total coberto é de até R$ 250 mil por CPF/CNPJ.
Como mensurar o risco?
Há algumas ferramentas que ajudam os gestores e investidores a calcular o risco de um investimento. Esses termômetros podem ser lidos de diversas maneiras, de acordo com o perfil do investidor. São elas:
Índice Sharpe – indicador que mede o retorno potencial de um investimento em comparação ao risco. Quanto maior o índice Sharpe, melhor é o retorno ajustado ao risco.
Fundos de ações e/ou multimercados costumam ter essa classificação que é feita a partir de um cálculo. O Índice Sharpe permite, por exemplo, comparar a dinâmica de dois fundos por meio da relação entre retorno e unidade de risco.
Value at Risk (VaR) – é um dos modelos mais usados no mundo para calcular o risco de qualquer ativo financeiro. Por isso, para além do segmento de investimentos, ele é usado por empresas que possuem exposição a ativos monetários, commodities, entre outros. O VaR pode ser calculado com diversas metodologias, sendo algumas mais conhecidas pela simplicidade e precisão.
Rating, ou Nota de Crédito – é uma avaliação feita por agências classificadoras de risco, como a Fitch Ratings, Moody’s ou S&P Global Ratings. Essas notas podem ser concedidas ao governo, às empresas, aos bancos, às seguradoras, ou a fundos ou créditos estruturados. A nota, dada em letras, mede a capacidade da entidade em cumprir com as obrigações com os credores. Sendo assim, quanto maior o rating, menor a chance de inadimplência.
[sugestão de arte: destaque para as aspas com foro de Pedro Zumarán]
“Tem cliente que quer mais risco, outros são mais conservadores. Mas sempre buscamos oferecer as opções mais bem avaliadas, porque, em geral, trata-se de investimentos de maior qualidade”, afirma Zumarán.
[sugestão de imagem: tela com gráficos]
Tipos de análise
Para escolher os ativos de maneira mais assertiva e segura, os investidores recorrem a ferramentas que se propõem a medir o potencial de valorização de uma ação ou de um índice. Entre esses instrumentos estão a análise técnica e a análise fundamentalista.
De maneira simples, a análise técnica utiliza gráficos para estudar os movimentos do mercado a fim de prever tendências de preço. Já a fundamentalista considera aspectos macro e microeconômicos que impactam diretamente os ativos.
Como lidar com o risco?
Conforme o investidor for entendendo a dinâmica do mercado, é possível agregar outros ativos à carteira. Do perfil moderado para frente, a exposição ao risco é inevitável. Mas é papel do assessor de investimentos não só explicar o tipo de risco de cada estratégia, como equilibrar o portfólio para equilibrar essa exposição.
Confira três dicas básicas para lidar com o risco:
- Contar com a ajuda e suporte dos assessores de investimentos;
- Diversificar as aplicações para aumentar as chances de lucro e suavizar os riscos em todos os cenários;
- Acompanhar informações sobre o cenário político/econômico e avaliação dos ativos em relatórios e informativos do mercado
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*Sob supervisão de Priscilla Arroyo