Jhonny Oliveira —
De julho de 2015 até agosto de 2020, a Selic – taxa oficial de juros do País – diminuiu aproximadamente 86%, saindo de 14,25% para 2% ao ano. Essa queda refletiu uma mudança na política econômica proposta pelos últimos governos, com o objetivo de incentivar a atividade do mercado produtivo e estimular o consumo.
Isso repercutiu de maneira direta no rendimento das aplicações. Os investimentos conservadores, que antes pagavam mais de 1% ao mês em juros, passaram a render aproximadamente 0,16%. Trata-se de um retorno que muitas vezes não supera a inflação, resultando em um juro real negativo para o investidor. O que fazer para garantir uma boa rentabilidade nesse cenário?
O conselho é montar uma carteira combinando modalidades de investimentos capazes de ofertar retornos mais equilibrados, rentabilidade, segurança e liquidez.
Confira algumas categorias que atendem a esses critérios:
- Renda fixa indexada à inflação: São títulos conservadores que têm a sua rentabilidade formada pela inflação medida pelo IBGE, mais uma taxa prefixada, que gera uma rentabilidade real positiva para o investidor.Nessa categoria podemos encontrar títulos públicos, bancários e títulos de crédito privado. São papéis para serem mantidos na carteira até o vencimento. Por isso, trata-se de uma alternativa para preservar o poder de compra do patrimônio ao longo do tempo com uma maior segurança
- Renda fixa com taxa prefixada: é o único investimento no qual é possível saber o rendimento exato do título até o vencimento. Por essa característica, é uma modalidade segura e rentável para compor a carteira de investimentos. Contudo, os prazos e a liquidez desses títulos são longos. A dica é colocar até 10% do patrimônio nessa categoria de remuneração, que está disponível em títulos públicos, bancários e de crédito privado.
- Fundos de investimentos: aqui a estratégia de alocação dos ativos será feita por um gestor, que vai decidir quais são os melhores produtos para compor o portfólio com base em regras pré-acordadas, que são diferentes entre os fundos. Há tipos que operam com estratégias conservadoras em renda fixa, moderada em multimercados e arrojadas em renda variável. Avaliar essas estratégias é importante para que o investidor escolha de maneira assertiva onde pode ter os melhores retornos considerando o perfil individual de tolerância ao risco. Antes de adquirir cotas, é importante avaliar igualmente as características dos fundos, como prazo de resgate, taxas de administração e, se houver, de performance.
- Ações e Fundos Imobiliários: indicado para investidores com perfil mais arrojado, que buscam ganho de capital ao longo do tempo e estão dispostos a tolerar flutuações negativas em determinados períodos – principalmente no curto prazo. Trata-se de uma estratégia que demanda maior conhecimento e capacidade analítica para tomar decisões no momento de formar o portfólio. Como os preços são bastante sensíveis ás mudanças nos contextos econômico e político do mercado, a dica é não expor mais do que 5% do patrimônio inicialmente nessas classes. Um boa oportunidade de iniciar aportes na Bolsa de Valores são ativos de empresas bem fundamentadas, já consolidadas em seus setores de atuação e que distribuem lucros periodicamente aos investidores. Em relação aos Fundos Imobiliários, algumas categorias permitem ganho de capital à medida que o fundo valoriza e também por meio de pagamento mensal dos dividendos aos cotistas. Outra vantagem é que há isenção de Imposto de Renda para pessoas físicas. As possibilidades de retorno nessa classe são muito significativas, porém os riscos também são consideráveis e não se deve investir recursos que o investidor pode ter necessidade de usar em um horizonte de tempo curto.
Em um momento no qual a Selic atinge patamar mínimo histórico, o ideal é compor uma carteira diversificada entre várias classes de ativos, na qual os percentuais devem ser definidos conforme o perfil de cada investidor. Os critérios preestabelecidos de segurança devem ser igualmente analisados, assim como liquidez e objetivo de retorno. O comportamento da Selic é cíclico, e por isso é preciso estruturar a carteira de investimentos de maneira estratégica para capturar as melhores rentabilidades em meio a esse movimento.
Breve histórico da Selic
A Selic foi criada em 1999 com o objetivo de ser uma de referência para os juros praticados no mercado financeiro. Definida pelo Banco Central a cada 45 dias, ela se tornou instrumento balizador da economia, pois promove estímulos de consumo, com juros mais baixos, e controle da inflação, com juros mais altos.
No ano passado, a postura de diminuição da taxa se intensificou por conta do isolamento social em meio à pandemia, o que impactou todos os setores da economia. Como ferramenta para fomentar a atividade nesse cenário adverso, o Banco Central reduziu os juros com o intuito de amenizar custos de crédito e compensar o baixo nível de atividade econômica.
Novo rumo para os juros
Hoje em 2,75% ao ano, a Selic deve seguir aumentando. A expectativa do mercado financeiro em meados de março era que a taxa básica de juros encerrasse o ano em 3,75%, enquanto a expectativa para a inflação oficial, medida pelo IPCA, estava em 4,60% para o fim de 2021. O percentual consta no boletim Focus (edição de 15/03), pesquisa divulgada semanalmente pelo Banco Central (BC), que reúne a projeção para os principais indicadores econômicos.
Um importante fator que contribui para a expectativa do aumento de inflação e, como consequência da Selic, é a alta do dólar. A moeda americana sobe mais de 7% em 2021 e reflete na alta dos preços da cesta de produtos que forma o IPCA.
Como o cenário muda constantemente, o investidor deve estar sempre atualizado para avaliar potenciais mudanças na sua carteira de ativos com o objetivo de angariar a melhor rentabilidade.