Alessandra Taraborelli
Depois de uma semana mais curta, porém cheia de emoções, agora os investidores querem saber se o ritmo de recuperação da economia doméstica melhorou. Na quarta-feira (15), o Banco Central divulgará o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de julho. Em junho, o índice registrou alta de 1,14% ante queda de 0,55% em maio. Na comparação com junho de 2020 houve avanço de 9,07%. No ano, o IBC-Br acumula alta de 7,01% e, em 12 meses, avanço de 2,33%.
Esse indicador é considerado uma prévia do PIB e é divulgado mensalmente pelo BC, enquanto o PIB, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é revelado a cada três meses. Por ser um indicador mensal, investidores e empresas usam o índice como base para fazerem suas estratégias de curto.
No dia 16, é a vez de conhecer o Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10) de setembro. O indicador calcula os preços ao produtor, consumidor e na construção civil entre os dias 11 do mês anterior e 10 do mês de referência. Segundo levantamento da Bloomberg, o mercado espera desaceleração de 0,4%. Em agosto o índice ficou em 1,18% e passou a acumular alta de 16,88% no ano e de 31,84% em 12 meses.
Antes dos dados domésticos, no dia 14 será conhecido o índice de preços ao consumidor, ou CPI, nos EUA, em meio às expectativas de quando o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) deve começar a retirar os estímulos à economia. Ao longo da semana ainda serão divulgados o índice de vendas no varejo, a produção industrial e o Empire Manufacturing de atividade. Este último indicador mede a saúde econômica do setor de fabricação por meio de um levantamento feito junto a 200 fabricantes no estado de Nova York.
Política no foco do mercado
Um olho no peixe e outro no gato. No caso, o peixe são os dados econômicos e o gato, o imbróglio político. Depois da carta à nação na semana passada, feita pelo presidente Jair Bolsonaro, para apaziguar o discurso antidemocrático feito no dia da Independência, o investidor vai monitorar se o tom moderado será mantido, ou se foi apenas uma estratégia de curto prazo.
Na sexta-feira (10), durante conversa com investidores estrangeiros, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a crise institucional pode prejudicar o País. “Todo esse barulho sobre instituições e democracia pode afetar nossa bem posicionada economia, no sentido de que estamos prontos para avançar novamente? Minha resposta é que isso pode produzir muito barulho, desacelerar o crescimento. Mas não mudar a direção, estamos na direção certa”, afirmou.
A agenda de reformas e a questão dos precatórios seguem em pauta. Segundo fontes ouvidas pela Bloomberg, a ala política do governo e as lideranças do Congresso trabalham em busca de uma narrativa na defesa da retirada desses pagamentos do teto de gastos, enquanto o ministério da Economia resiste.
Retrospectiva: manifestações e recuo do presidente impõem cautela aos negócios
Embora a semana tenha sido mais curta em razão dos feriados nos EUA (06) e no Brasil (07), as preocupações não foram menores. No dia 7 de setembro, vários brasileiros foram às ruas para demonstrar apoio ao presidente Bolsonaro, que se animou com as manifestações e fez declarações antidemocráticas contra membros do Supremo Tribunal Federal (STF), contra o atual sistema eleitoral e ainda criticou governadores e prefeitos que adotaram medidas restritivas para o combate ao Covid-19.
Na quarta-feira (08), vários políticos fizeram declarações repudiando as falas do presidente Bolsonaro. O presidente da Câmara, Arthur Lira, defendeu a urna eletrônica, mas sinalizou que não pretende dar andamento aos pedidos de impeachment que estão “guardados em suas gavetas”. O presidente do STF, ministro Luiz Fux, fez um discurso mais forte e enfatizou que “ninguém fechará” a Corte. Ele afirmou ainda que a fala do presidente na véspera configurou crime de responsabilidade.
Diante de tantas incertezas e temores, os investidores preferiram se desfazer de suas posições, o que levou o Ibovespa a amargar uma queda de quase 4% na quarta-feira (8), o maior recuo desde 8 de março quando o STF anulou as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Para contribuir com o humor do investidor, na quinta-feira (9), logo cedo, o IBGE informou que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto ficou em 0,87%, a maior taxa para um mês de agosto desde 2000, mas abaixo dos 0,96% verificados em julho. Com isso, o índice passou a acumular ganho de 9,68% em 12 meses, a mais alta desde fevereiro de 2016, quando ficou em 10,36%. No ano, o avanço é de 5,67%.
A inflação vem se espalhando por todos os itens de consumo do brasileiro. Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE, oito registraram alta de preços. A única exceção foi o segmento de saúde e cuidados pessoais. Os combustíveis foram os vilões do mês passado: gasolina (+2,80%), etanol (+4,50%), gás veicular (+2,06%) e óleo diesel (+1,79%).
No fim do dia, no entanto, a carta do presidente Bolsonaro para apaziguar o impasse com o STF reduziu a pressão e a Bolsa conseguiu encerrar o dia em alta. Para ajudar a escrever a carta, o presidente convocou o ex-presidente Michel Temer. No documento, Bolsonaro afirmou que “nunca teve a intenção de agredir quaisquer dos Poderes”. Disse ainda, que “na vida pública as pessoas que exercem o poder, não têm direito de esticar a corda, a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia”.
A semana ainda teve influência negativa vinda de fora. Nos EUA, o Federal Reserve informou em seu Livro Bege, relatório de conjuntura, que o crescimento econômico do país apresentou leve desaceleração, refletindo a preocupação e o avanço da variante Delta do coronavírus.
Diante deste cenário conturbado, a Bolsa até tentou migrar para o azul, mas encerrou a sexta-feira (10), em queda de 0,93%, aos 114.285 pontos, e acumulou declínio de 2,3% na semana. No mês e no ano o índice também se manteve em terreno negativo, com recuos de 3,78% e 3,97%, respectivamente.
O dólar também reagiu negativamente. A moeda norte-americana encerrou a semana com alta de 0,76%, valendo R$ 5,26 e, na semana, acumula ganho de 1,58%.
Agenda de indicadores econômicos:
Confira os principais eventos que devem centrar a atenção dos investidores:
Data | País | Indicador |
13/09/2021 | Brasil | BCB: Relatório Focus (semanal) |
13/09/2021 | Brasil | Secex: Balança comercial (semanal) |
14/09/2021 | Brasil | IBGE: Pesquisa Mensal de Serviços (jul) |
14/09/2021 | Brasil | CNI: Índice de Confiança do Empresário Industrial – ICEI (set) |
14/09/2021 | EUA | Índice de preços ao consumidor (ago) |
15/09/2021 | Brasil | BCB: Índice IBC-Br de atividade econômica (jul) |
15/09/2021 | Brasil | BCB: Fluxo Cambial (semanal) |
15/09/2021 | Área do Euro | Produção industrial (jul) |
15/09/2021 | EUA | Índice Empire Manufacturing de atividade (set) |
15/09/2021 | EUA | Produção industrial (ago) |
16/09/2021 | Brasil | FGV: IPC-S (semanal) |
16/09/2021 | Brasil | FGV: IGP-10 (set) |
16/09/2021 | EUA | EUA: Pedidos de auxílio desemprego (semanal) |
16/09/2021 | EUA | EUA: Índice de atividade do Fed Filadélfia (set) |
17/09/2021 | Brasil | FIPE: IPC (semanal) |
17/09/2021 | Área do Euro | Índice de preços ao consumidor (ago) – final |
17/09/2021 | EUA | Índice de confiança da Universidade de Michigan (set) – preliminar |