Michael Mauboussin é chefe de uma das áreas de pesquisa do Morgan Stanley, professor adjunto da Columbia Business School e autor de diversos livros.
Boris Bellini –
“Para quem acompanha o que a gente fala, as nossas lives etc., muitas das ideias que a gente tira, tira do palestrante que está para vir aqui.” Foi dessa forma, Arthur Wichmann, CIO do XP Private, anunciou Michael Mauboussin durante a Expert XP 2023.
O autor americano buscou entender por que equipes esportivas têm dificuldade de mudar e, dessa forma, compreender o que leva as mudanças também serem difíceis nas empresas e nos investimentos.
3 pontos principais
Por que é tão difícil mudar, fazer coisas novas? Mauboussin responde com uma pequena lista de 3 tópicos.
1. Aversão à perda
Se você tentar algo novo e tiver um resultado ruim, o impacto emocional será maior do que se você fizer uma coisa nova e der certo. Então, o que pode levar a superar esse problema?
O autor retoma os exemplos com os esportes. Quando um time está indo muito mal, ele muda porque é a única coisa a ser feita, já não há mais nada a perder. Por outro lado, se uma equipe vai bem, ela pode mudar por ter capital para isso, ela tem um sucesso no qual se basear.
2. Viés do status quo
Em resumo, as pessoas e as organizações tendem a continuar fazendo o que elas sempre fizeram, mesmo quando existem alternativas melhores. Michael Mauboussin aponta características que fazem parte do viés do status quo.
- Viés da omissão: ele acontece porque se você continuar fazendo as coisas do mesmo jeito de sempre, ainda que não funcione muito bem, ninguém vai dar muita atenção. Porém, se você tentar algo novo e der muito errado, as pessoas vão te criticar bastante.
- O treinamento como uma corporação: de acordo com o professor, em muitas organizações há um conjunto de práticas que as pessoas vão transmitindo umas às outras, de geração em geração, e é difícil quebrar isso para inovar.
- Custo de doação: que é nós darmos muito valor às coisas que já temos, bem mais do que elas realmente valem. Com isso, tendemos a dar mais valor às nossas práticas do que elas têm.
3. Tamanho da amostra
“Uma coisa que é muito difícil de fazer e, aliás, é muito importante para os investimentos também”, anuncia Mauboussin.
Uma das formas de entender o tamanho da amostra é a seguinte: você escolhe coisas corretas, mas que não funcionam no curto prazo e as pessoas começam a te julgar por isso. Porém elas são boas e, com mais tempo, podem se provar melhores do que outras.
Há uma ideia dentro do tamanho da amostra que é definida por Michael Mauboussin como “regressão em direção à média”. Significa que algo que vai muito bem pode voltar a ter um desempenho na média. Da mesma forma, um time ou um investimento que está mal, tende a subir até o meio novamente.
O autor recorre ao exemplo de equipes esportivas que vão mal e substituem o treinador: “Quando o time troca de técnico, quase sempre ele melhora. Por causa do novo técnico? Pode ser, mas é mais provável que seja um caso de regressão em direção à média”.
Como é possível mudar e seguir rumo à vitória?
O primeiro ponto sugerido por Mauboussin é focar nos processos de trabalho (ou investimento) e nos feedbacks deles. Ele brinca que também não se deve ler os jornais para as notícias ruins não te atrapalharem: “Sempre há altos e baixos e a chave é subir esses altos e baixos enquanto você toma as suas decisões”, explica.
Além disso também é importante refinar a avaliação de talentos e pensar da seguinte maneira: “Quais habilidades nós podemos ensinar e quais não podemos?”.
Outro ponto importante é explicar o porquê. Então, ao invés de falar para as pessoas o quais tarefas elas devem realizar, é melhor explicar por que vai funcionar para elas o que você quer.
Nos investimentos e no trabalho é comum as pessoas procurarem ganhos ótimos ou, em uma tradução literal da definição de Mauboussin: ganhos em excesso. Ele inclusive oferece uma fórmula para atingi-los:
Ganhos = habilidade X conjunto de oportunidades.
“Você pode ser a pessoa mais habilidosa do mundo, mas se o seu conjunto de oportunidades não for bom, é muito difícil atingir retornos em excesso”, explica.
Para ter um bom conjunto de oportunidades é importante ter muitas fontes, vários lugares de onde podem surgir oportunidades. Também há o que o autor chama de “edge”, que pode ser definido como “a probabilidade estatística do sucesso”.Por exemplo, se você tiver pouco edge nos investimentos, provavelmente serão necessárias várias vitórias pequenas para atingir algo atrativo. Por outro lado, se o edge for grande, será possível ter retornos substanciais de poucos investimentos.