Na avaliação de gestores, potencial desaceleração da economia no segundo semestre deve abrir espaço para redução de 0,75 pontos percentuais na taxa básica de juros em novembro e dezembro
Priscilla Arroyo –
Passado o maior ciclo de aperto monetário da história, o Banco Central (BC) começou a cortar os juros em agosto, quando a Selic diminuiu de 13,75% para os atuais 13,25%. A pergunta que paira no mercado é: qual será a dimensão dos próximos cortes?
Com mais três decisões de juros neste ano – em setembro, novembro e dezembro – a expectativa é que o ritmo de redução da taxa básica de juros acelere. “Esperamos cortes de 0,75 e até 100 pontos percentuais na Selic”, diz Felipe Guerra, CIO da Legacy Capital.
A tese que justifica a expectativa se baseia na observação dos índices de inflação – que seguem sob controle, enquanto os indicadores econômicos antecedentes (que apontam para o futuro da atividade) estão mais fracos. Esses fatores podem ser considerados pelo Comitê de Política Monetária (Copom) nas próximas reuniões.
O assunto foi discutido no painel “Visões da JGP, Kapitalo e Legacy sobre Brasil e mundo” na sexta-feira (1) durante a Expert XP 2023, em São Paulo. A conversa foi mediada pela diretora de Redação da InfoMoney, Raquel Balarin, e contou também com a participação de Carlos Carlos Woelz, sócio fundador da Kapitalo e André Jakurski, sócio-fundador e diretor executivo da JGP.
Incerteza fiscal no radar
O governo federal enviou ao Congresso Nacional, no fim de agosto, o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) para 2024. A expectativa do ministro da Economia, Fernando Haddad, é que o déficit público seja zerado no ano que vem com a arrecadação extra de impostos. Os gestores acreditam que será difícil zerar essa conta, mas a preocupação maior está no longo prazo.
“Boa parte da arrecadação fiscal no médio prazo será receitas não recorrentes. Não vejo problema por agora. Mas, no longo prazo, a expectativa é de avanço significativo da dívida pública porque o país tem uma taxa potencial de crescimento baixa e juro real alto, a conta não fecha no longo prazo”, afirma Jakurski, da JGP . “Esse cenário pode influenciar um corte da Selic entre 0,50 e 0,75 pontos percentuais nas últimas reuniões do ano”, complementa.
Onde investir?
Quando o assunto é Bolsa, a dinâmica vencedora do investidor pode ser resumida em “ter habilidade e coragem para comprar quando as ações estão baratas e saber qual é a certa para vender”. Essa é a filosofia que move Jakurski.
O gestor ressalta o momento desafiador do setor de varejo como um dos destaques deste ano. Por outro lado, lembra que as ações da Petrobras (PETR4) já subiram mais de 60% no ano – considerando os dividendos. Como comparação, até o fim de agosto, o Ibovespa subia 5,51% em 2023.
“No começo do ano, os investidores evitaram as ações da Petrobras com receio de uma intervenção maior do governo. Isso não aconteceu, a ação valorizou e segue sendo uma boa pagadora de dividendos. O dividend yield da PETR4 deve variar entre 10% e 20% nos próximos periodos”, diz Jakurski.
Já Carlos Woelz, da Kapitalo, afirma que a gestora segue com ações da Petrobras (PETR4) e da Suzano (SUZB3) no portfólio. “Compramos os papéis quando estavam baratos, e agora esperamos o momento de vender”, diz.
Embora o gestor considere um cenário de desaceleração forte da economia no radar, ele avalia que, pela primeira vez, trabalha com a expectativa de que a rentabilidade da Bolsa ultrapasse o retorno da Renda Fixa no longo prazo.
Na avaliação de Guerra, da Legacy Capital, um dos fatores que deve pressionar o desempenho da economia é a alta dos tributos que o governo pode promover para cumprir as metas fiscais. “Podemos observar impactos importantes em Vale e Petrobras”, afirma.
Nesse cenário, o gestor aposta em uma estratégia que promove um mix de ativos da Renda Fixa e Renda Variável. “Existem muitas boas oportunidades no segmento de crédito provado, com debêntures incentivadas – isentas de Imposto de Renda – que pagam inflação +7,5% ao ano. Preferimos equilibrar o portfólio com esses ativos. É mais seguro em comparação a tomar risco com empresas da Bolsa reguladas que podem sofrer os impactos do aumento de impostos”, afirma Guerra.