Boris Bellini* –
No início de fevereiro, os olhares dos investidores estavam voltados ao processo inflacionário que se espalhou pelo mundo. No Brasil, a alta foi de 10,54% no acumulado de 12 meses. No mesmo período, os americanos viram sua inflação subir 7,9% – o maior número em 40 anos.
Então, as tensões no leste europeu aumentaram até a Ucrânia ser invadida pela Rússia na madrugada do dia 24. Faltavam poucos dias para o mês acabar, mas foi o suficiente para muitas mudanças e o conflito virou assunto principal. Os dois países envolvidos são importantes produtores de fertilizantes e commodities – com destaque para petróleo, gás, milho e trigo.
Analistas da XP apontam que a alta dos produtos pressiona o cenário de inflação que já preocupava investidores antes. Isso ocorre porque petróleo e gás são importantes para a produção de energia e podem ter impacto em diversos setores de produção e distribuição. Já a alta do milho e do trigo tornam os alimentos mais caros – ou seja, eleva os gastos de todas as pessoas.
Além de esses quatro produtos já afetarem as economias do mundo, outras commodities acabam sendo influenciadas também. Quatro dias depois da invasão da Rússia na Ucrânia, o preço do açúcar e do minério de ferro, por exemplo, subiram cerca de 10%.
O time de especialistas da Levante destaca um cenário de risk-off – ou seja, os grandes investidores estão menos dispostos a tomar riscos e buscam ativos mais conservadores. Um dos sinais dessa fuga apontados pelo time é a valorização do dólar frente a outras moedas fortes. Houve alta em relação à libra e ao euro, por exemplo. Outros sinais são redução na margem de lucro dos títulos públicos americanos de longo prazo e alta do ouro.
Com a fuga para investimentos de menor risco, as bolsas tendem a cair. Em fevereiro, o S&P 500 caiu 15% e o Ibovespa 0,7%. Os analistas ressaltam ainda que a Europa, cenário do conflito, deixa de ser atrativa para investimentos.
Oportunidade em BDRs em março
É importante observar que a queda nos preços das ações envolve o receio pelo cenário conturbado, mas há empresas que continuam apresentando bons resultados e perspectivas de crescimento. A Levante aponta que o Brasil fica cada vez mais próximo das eleições que, entre outros cargos, definiram quem será o presidente da república pelos próximos quatro anos – momento que sempre causa instabilidade no mercado nacional e favorece a estratégia de manter investimentos estrangeiros como estratégia de diversificação e maneira de equilibrar a carteira.
A carteira de BDRs recomendada pela Levante possui nove ativos, dos quais destacamos três (sendo um do Vale do Silício e duas empresas tradicionais): Meta, Johnson & Johnson e Coca-Cola.
- As BDRs são negociadas na B3. Os ativos constituem certificados de depósito e representam ações estrangeiras no Brasil. Ou seja, é uma forma do investidor aportar em empresas de outros países diretamente pela Bolsa local. Existem 948 opções que replicam o movimento de diferentes ativos em seus países de origem.
Meta (FBOK34)
Instagram, Messenger, WhatsApp e Oculus. As redes sociais da Meta fazem tanto sucesso, que são acessadas diariamente por 2,76 bilhões de usuários ao redor do mundo. Não é à toa que recentemente a empresa foi uma das poucas a ser avaliada em US$ 1 trilhão.
Neste ano, as BDRs da empresa operam em queda acima dos 40% na esteira da divulgação dos resultados do terceiro trimestre de 2021 – considerados ruins. Os analistas da Levante ainda apontam a empresa como boa oportunidade por diferentes motivos. Primeiro, o preço médio dos anúncios feitos nas redes sociais aumentou recentemente e essa é uma das principais fontes de renda da Meta.
Também foi apontada a diminuição nas taxas de crescimento e possibilidade de desaceleração no segundo semestre. Porém, nada disso se trata de uma ameaça à tese de investimentos – até porque o movimento já foi precificado pelo mercado. Acontece que a dona do Facebook é, cada vez mais, uma empresa madura.
Outro ponto destacado pelo relatório da Levante é a tendência de os costumes da sociedade passarem por uma digitalização mais acentuada após a pandemia. A Meta é considerada uma empresa bem preparada para surfar a onda desse aumento. Por fim, também é visto que o negócio se encontra em uma fase mais madura e capaz de gerar não só crescimento, mas retorno aos acionistas, principalmente por suas margens operacionais elevadas. Os investidores são remunerados por meio de um programa de recompra de ações.
Johnson & Johnson (JNJB34)
A dona da Band-Aid, Listerine e Sundown – só para destacar algumas das centenas de marcas da companhia – viu as suas ações caírem 10% neste ano como reflexo de suspeitas de reações adversas causadas pela vacina Janssen, produzida pela empresa. Para os especialistas da Levante, não se trata de uma visão racional, pois o imunizante tem pouca representação dentro da empresa e não há expectativas de lucro expressivas para ele.
Entre os diversos segmentos de atuação da companhia, o farmacêutico se destaca. Trata-se de um nicho que tem margens de ganho maiores e muito espaço para crescer.
A empresa também é a maior fornecedora do mundo para o segmento médico-hospitalar, com US$ 27,1 bi na área em 2021. E o momento é propício: durante a pandemia, muitos pacientes adiaram procedimentos cirúrgicos, que devem ser retomados ao longo deste ano com o arrefecimento no contágio como reflexo do avanço nos programas de vacinação em diversos países.
Os analistas explicam que a empresa também conta com lucros altos e bons retornos sobre investimento. Além disso, enxergam boas expectativas para este ano, com projeção de aumento de 28,1% do lucro líquido e 28,5% em 2023.
The Coca-Cola Company (COCA34)
As estratégias de investimento em Meta e Johnson & Johnson envolvem o proveito das marcas fortes que essas empresas possuem – um tema no qual a Coca-Cola é referência. Para se ter uma ideia, quatro das cinco maiores marcas de refrigerantes do mundo são dela: Coca-Cola, Diet Coke, Fanta e Sprite. As bebidas fazem tanto sucesso ao redor do mundo que são comercializadas em 200 países.
Com tanto reconhecimento, a empresa consegue boas margens e retorno sobre patrimônio quando comparada aos concorrentes. Agora que o mundo começa a retomar a vida social fora de casa, as bebidas da Coca-Cola devem ser ainda mais vendidas.
E não é só refrigerante. A companhia entende que as sociedades buscam consumos cada vez mais saudáveis e hoje as pessoas entendem melhor os malefícios do consumo de muito açúcar. Por isso mesmo, o portfólio de produtos vai além dos refrigerantes e ajuda a garantir boas vendas.
O relatório da Levante chama atenção para o desconto no preço das ações que gira em torno de 12%. As BDRs têm caído em 2022, apesar de apresentarem alta de cerca de 1% no mês de fevereiro.
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*Sob supervisão de Priscilla Arroyo